sábado, 11 de novembro de 2017

Capítulo XIX – VERBO REPRESENTAR x VERBO SER [A “dura” doutrina da Eucaristia]






“Porque, qual é o bem (oriundo) dêle, e qual a sua formosura, senão o pão dos escolhidos e o vinho que gera virgens?” (Zac IX, 17)

Deixei para o final o ponto mais grave e temerário para alguém que permanece neste erro, isto é, na heresia protestante, possuindo uma ignorância vencível[1]. Há pelo menos 50 anos o que muito se vê na Igreja e no mundo é o discurso de tipo ecumênico[2]. Hoje fala-se mesmo em uma “missa ecumênica”, em que o elemento principal do culto divino por excelência desaparece; óbvio. No entanto, ao se definir dogmaticamente que Fora da Igreja não há salvação[3], um dos motivos para sua justificativa pode ser aqui – neste “elemento” – encon­trado com clareza e força argumentativa. Para discorrer sobre ele escolhi como instrumento de auxílio a gramática, uma vez que possui, compreensivelmente, ligação com o Verbo.

Mesmo os que – sem deméritos – não foram muito além da assinatura do nome, ou ainda os de inteligência aquém da média, quando ouvem pronunciar estes dois verbos sabem se tratar de ações distintas. Por isso, se você per­guntar a uma pessoa medianamente de posse de suas faculdades mentais quem ela é, jamais dirá estar ali a mando de alguém ou interpretando qual personagem teatral. Do mesmo modo, se se perguntar quem representa, não responderá seu nome, tampouco acrescentará algum dado pessoal a seu respeito. Aqui temos, pois, dois verbos distintos, o verbo representar e o verbo ser (que pode eventu­almente vir associado a outros como o “ter” ou o “tornar”). Muito simplesmente, o primeiro é aquilo que não é e o segundo aquilo que é. E com eles intentarei expor (en passant, o que é a proposta deste livro) um dos maiores e mais excelsos mistérios da fé católica, do Cristianismo e mesmo de toda a Criação[4], possuidor de uma característica única, que de forma especial diferenciará o Catolicismo de toda e qualquer religião: a Transubstanciação do pão e do vinho.

Antes, contudo, deixo a indicação de uma exposição em vídeo sobre a Eucaristia no Judaísmo, que considero sine qua non à compreensão deste tema. Com impressionante e mui inspirada precisão, o autor retira “coisas novas e velhas” (Cf. Mt XIII, 52) de um baú de mais de cinco mil anos. O leitor encontrará a referência do vídeo na nota de número 9 de meu artigo “As sutilezas de Deus ou a Confeitaria divina”[5].


Direto ao assunto

Nosso Senhor Jesus Cristo, que é Deus com o Pai e o Espírito Santo, dirá de forma clara e explícita, literal e categórica, horas antes de sua Paixão e morte[6] na celebração da Quinta-feira Santa, que o pão e o vinho consagrados e repartidos com os apóstolos se tornariam – portanto seriam (verbo ser) – o seu Corpo e o seu Sangue[7].

Fazendo um pequeno exercício de raciocínio, suponhamos que pão e vinho fossem aqui tratados por Cristo, segundo a interpretação protestante, como mera representação (símbo­lo), portanto algo que representasse, não fosse. Como explicar então, convincentemente, a necessidade de Cristo consagrar[8] estes alimentos? E que necessidade te­ria São Paulo em alertar que quem os comesse e bebesse indignamente, sem distin­guir o que estivesse fazendo, se tornaria réu do corpo e do sangue de Cristo? Como ainda poderia uma representação, um mero símbolo adquirir tamanha dignidade a ponto de ser consagrado e se tornar responsável pela condenação de uma pessoa? – notemos que o Apóstolo não se refere a um castigo qualquer, mas à condenação eterna, que só ocorre quando DEUS é direta e gravemente ofendido de forma consciente e espontânea. Por fim, se o pão e o vinho não se tornassem (verbo ser) após a consagração o Corpo e o Sangue de Cristo, que razão teria para Ele afirmar/alertar: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós... Porque a minha carne é verdadeiramente comida, e o meu sangue é verdadeiramente bebida” (Jo VI, 54ss)?

Não resolverá apelar para o falso argumento das más tra­duções católicas ou de metáforas e sentidos figurados, pois o grego e o latim trarão exatamente este sentido, o mesmo que a Tradição e o Magistério bimilenar da Igreja (a mesma que nos deu a Bíblia Sagrada[9]) sempre ensinaram. A maior prova de que Cristo falava realmente de comer a sua carne e beber o seu sangue é dada ainda pelo próprio Evangelho, que nos mostra que a partir desse momento, por en­tender o que estava sendo dito (e que não foi retificado!), a maioria dos discípulos o abandonaram, dizendo “Dura é esta linguagem; quem a pode ouvir?” (Jo VI, 60)...

... da mesma forma que outros tantos discípulos o fariam, a partir de 1517, em coro aos judeus de outrora! Até hoje poucos são os que permanecem, a exem­plo dos apóstolos, ao lado de Cristo professando: “Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna...”[10]. O fato é que tampouco Lutero no princípio de sua revolta negou a Eucaristia[11]. O fez especialmente depois de perder o poder de consagrar o pão e o vinho após sua excomunhão. E posteriormente, ao entender de forma ampla que o Papado dependia visceralmente da Missa como sacrifício é que ele, para derrubar o Papado empreendeu o trabalho de deturpação do sentido eucarístico. Por que Lutero quis derrubar o Papado? Para ser “papa”, como o demonstra mais uma vez sua biografia. Mas, evidentemente, não só o Papado sobrevive da Eucaristia: todo Catolicismo dela sobrevive. Que digo? Toda a Humanidade sobrevive, ainda que rejeite ou não creia, da Eucaristia. Um só dia sem ela, dizem os Santos, Doutores e Papas, e o mundo já não se manteria. Como então querer salvar-se, ter a vida eterna sem comer “... a carne do Filho do Homem” e sem beber “... o seu san­gue”? E como fazer isto sem pertencer ao corpo de Cristo, a Igreja Católica fora da qual não há salvação?[12] As perguntas são nossas. O alerta, das Sagradas Escrituras e de seu Autor[13].

Concluindo

Sem me deter demasiado, pois a compreensão se tornará simples aos de reta intenção, proponho um pequeno exercício de reflexão. Apesar de pequeno, os re­sultados poderão ser grandes. Para melhor aproveitamento e compreensão peço ao leitor que siga como proposto, passo a passo (lembro que a tradução adotada às passagens abaixo, como dito na Apresentação deste livro, será a do Pe. Matos Soares a partir especialmente da Vulgata de S. Jerônimo[14]):

a) pegue a Bíblia e procure o profeta Malaquias, capítulo I versículos 10, 11 e 12;
b) leia uma primeira vez, com atenção;
c) reflita sobre o que seria este “sacrifício”, esta “oblação pura”, oferecida a Deus “do nascer do Sol até o poente”, todos os dias, 24h por dia, fruto não de mãos humanas, mas digno da própria glória divina (cabe salientar que o texto aponta a um sacrifício por tempo indeterminado); e por que Deus se indignaria demasiado pelo fato de se dizer que o que se oferece em cima da “mesa do Senhor” (o altar do templo) é uma oferenda “comum”;
d) após refletir leia novamente, com atenção, desta vez colocando a Cristo, o “Cordeiro de Deus”, no lugar da “oferenda pura”, a “hóstia[15] pura”;
e) agora compare com 1 Cor XI, 23s;
f) pense então em um rito ou culto sagrado que aconteça todos os dias, 24h por dia, no mundo inteiro (tendo em conta os fusos horários), oferecendo a Deus Pai o próprio Filho, o “cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, vítima pura e santa, para que os homens, comendo da carne e bebendo do sangue des­se Cordeiro tenham a vida eterna e sejam ressuscitados no último dia (cf. Jo VI).
g) por fim, compare ainda com Mt XXVIII, 20.

Esta é a Santa Missa católica, com a consagração/transubstanciação do pão e do vinho no Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, a “hóstia pura” colocada no lugar do animal impuro, que apesar de cordeiro não tirava o pecado do mundo; e que é celebrada todos os dias em todos os lugares, “do nas­cer do Sol até o poente”, há quase dois mil anos. Após as Missas, as Hóstias consagradas, via de regra permanecem no Sacrário, dia e noite, todos os dias, uma vez que a Verdade afirmou: “... eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt XXVIII, 20).

Em tempo:
1) Como poderão verificar nas indicações de leitura, há centenas de milagres eu­carísticos (feitos por Nosso Senhor na forma de Hóstia Consagrada, também chamada Eucaristia ou Santíssimo Sacramento) que falarão por si, mostrando que Deus não cansa de deixar os seus sinais, como o fez entre o povo judeu. Lá eles viam Cristo e seus milagres. Não negavam um e outro. Mas negavam que um e ou­tro viessem de Deus. Hoje não vemos corporalmente a Cristo, mas seus milagres, muitos dos quais a ciência há séculos tenta desvendar e não consegue, como o de Lanciano (IT)[16], que tive o privilégio de testemunhá-lo in loco. Como exemplo, uma das maiores comprovações da veracidade e realidade das Hóstias que muitas vezes sangram, reside no fato de ao ser analisadas a posteriori quimicamente (tratam-se de amostras de séculos e lugares distintos), verifica-se possuírem um mesmo fator RH, o AB positivo, tido como “receptor universal” e, ao tempo em que raro na maioria das raças, comum entre os judeus. E como se não bastasse, estas amostras, que os cientistas, até que emitam os resultados desconhecem ser as de uma Hóstia consagrada, dizem unanimemente, pertencer a uma parte especifica do miocárdio e de uma pessoa ainda viva. Para que não haja dúvidas: algumas Hóstias consagradas por sacerdotes ao redor do mundo e em épocas diferentes transformaram-se – algumas na frente de testemunhas – em sangue e também carne. Ao serem levados a laboratórios – às vezes após séculos esperando a tecnologia adequada – verificaram ser sangue humano do tipo acima. TODAS AS AMOSTRAS possuem o mesmo fator RH com suas células – como não se sabe – ainda VIVAS, isto é, com glóbulos brancos ainda em atividade. “Casualmente” tipo sanguíneo é o mesmo encontrado no Santo Sudário de Turim, o objeto mais estudado no mundo todo e por cientistas não católicos, que comprovaram pelas probabilidades matemáticas impossível ser este uma fraude.
3) Por fim, como dito no capítulo anterior e para fornecer agora uma triste comprovação desta realidade, alguns exemplos de fatos que aos de boa vontade algo deveria ao menos chamar à atenção de forma séria e menos negligente, afinal, ironicamente acabam por se tornar provas concretas de que a Eucaristia é de fato Jesus Cristo. Enquanto muitos católicos tratam a “hóstia” como um símbolo qualquer, a maioria sob influência protestante, há uma categoria de pessoas que vêm demonstrando acreditar muito mais que nós mesmos nesta verdade sobrenatural, e são os satanistas (SIC!). Não por acaso, há muito se sabe que as Hóstias consagradas são sorrateiramente roubadas de templos católicos ou simplesmente levadas pelos que simulam comungar para depois levá-las aos cultos e rituais satânicos e lá profanarem o Corpo de Cristo. Ora, não será preciso muito esforço mental ou ser um PHD em Eucaristia ou Satanismo para perceber que se estas pessoas se empenham e arriscam tanto para ir a uma Missa (jamais vão a um culto protestante!) subtrair uma Hóstia, é mais do que certo que ali está mais que um símbolo, uma mera representação. Portanto, que nos sirva de alerta, pois aqui valerá a advertência de Jesus: “... a quem muito foi dado, muito será pedido” (Lc XII, 48)
Os fariseus daquele e deste tempo sofrem do mesmo e único pecado sem perdão, o pecado contra o Espírito Santo, em que se atribui ao demônio ou aos homens as obras de Deus e vice-versa. Para aqueles já não há mais solução. Para estes, contudo, ainda há tempo. Mas... quanto?





[1] Termo explicado nos capítulos II e XIII.
[2] Na verdade, de um falso ecumenismo que distorce o sentido original deste termo ao nivelar toda e qualquer religião sob o sofisma de que Deus está em todo lugar (em todo credo), que toda religião leva a Deus e que por isso não há uma que seja “melhor que as outras”, isto é, a verdadeira. O verdadeiro ecumenismo chama ao diálogo aos que possuem reta intenção da Verdade, que só pode estar integralmente em um lugar (como abordado no capítulo I), para que assim possa haver “um só rebanho e um só Pastor” (Jo X, 16).
[3] Ver capítulo II – Fora da Igreja não há salvação.
[4] Ao lado de mistérios como os da Santíssima Trindade, a Encarnação e a Ressurreição de Jesus.
[5] http://romadesempre.blogspot.com.br/2017/10/as-sutilezas-de-deus-ou-confeitaria.html
[6] Cf. Mt XXVI, 26s; 1 Cor XI, 23s.
[7] Curiosamente o protestantismo nega a esta passagem o que faz em tantas outras: interpretar ao pé da letra. Se fará um malabarismo hermenêutico e exegético para não enxergar o pé da letra ou o sentido literal de passagens como esta, confirmadas por outras como se verá a seguir.
[8] O termo consagração em sua primeira acepção, significa a separação de algo com o fim de torná-lo sagrado. Este é o sentido aplicado nas Sagradas Escrituras, bem como às hóstias na Missa, que veremos na sequência.
[9] Ver capítulo VI – O Cânon.
[10] Jo VI, 69.
[11] Como podemos perceber no dístico do capítulo I, ao falar no “Sacramento do altar”, e em sua biografia. No próximo e último capítulo apresentarei um pequeno resumo dela.
[12] Referido aos que possuem ignorância vencível.

[13] Ver o recente e mui interessante artigo de GERMÁN MAZUELO-LEYTÓN “Missa ecumênica”, em: http://romadesempre.blogspot.com.br/2017/11/missa-ecumenica.html.

[14] Que pode ser encontrada pela internet para download aqui: http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2014/12/obra-inedita-do-pe-matos-soares.html
[15] Do latim: vítima.
[16] Sobre este milagre ver na indicação de fontes (postagem final) e em vídeos no Youtube sob o título “milagres eucarísticos”. Tais milagres curiosamente vêm se tornando mais frequentes estes últimos anos (ver: https://fratresinunum.com/2016/04/25/novo-milagre-eucaristico-na-polonia/. Acesso em 01/05/2016). Este ano de 2017 só na Argentina já foram registrados três, ainda em estudo.

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