sexta-feira, 13 de outubro de 2017

A Revolução, George Soros e o ataque ao Ocidente

soros behind riots


Tradução: Airton Vieira

Às vezes lembro de meus anos na universidade, de quatro décadas atrás. Entre a universidade e a pós-graduação colaborei como assistente do escritor e filósofo conservador, Russell Kirk, em Mecosta, Michigan. Sendo um jovem do sul, o único significativo que faz lembrar o clima lá de cima era que tínhamos neve no solo—e muita—desde o dia de Ação de Graças até abril. Por isso, além de minhas tarefas de assistência ao Dr. Kirk, tinha muito tempo para ler (os Kirk não tinham televisão). E a biblioteca de Russell tinha mais de 30.000 livros. Tinha a abundância de um bibliófilo ao alcance da mão. Não só isso, ele era um dos “mestres” mais lidos que um estudante podia ter.


Então, mais além de sua vasta coleção de histórias e biografias, pude ler literatura excelente, incluindo alguns clássicos da espiritualidade católica.  Além de Jonathan Swift, Sir Walter Scott, e Robert Lewis Stevenson, estavam as obras de G. K. Chesterton, Hilaire Belloc, e os antigos, Vidas de Plutarco, Metamorfose de Ovid, Dante, e os escritos mais influentes do místico espanhol, São João da Cruz, esses que mudam a vida de alguém. Não os menciono para alardear, mas para dizer que meu ano com o Dr. Kirk foi mui frutífero de distintas maneiras, que só agora logro apreciar em sua totalidade.

Hoje em dia, quando reflito e escrevo ensaios, recordo cenas e citações de muitos desses clássicos que muitas vezes parecem encaixar e apoiar minha narrativa. Ao preparar este ensaio, recordei uma citação. É de Benjamin Disraeli, o grande primeiro ministro conservador britânico do século XIX, destacado de maneira proeminente na obra de Kirk, The Conservative Mind (A Mente Conservadora,1953). Surge de uma das novelas de Disraeli, Coningsby. Aqui está: “Já vê o senhor, meu estimado Coningsby, que o mundo está governado por personagens mui distintos de como os imaginam quem não estão detrás dos bastidores.”

Disraeli escreveu estas palavras há mais de 170 anos. Mas hoje, ao observar os restos decadentes de uma cultura que alguma vez se orgulhou de ser o “Ocidente cristão”, isto é, a civilização europeia que herdamos e nos modelou e temperou durante quase dos mil anos—enquanto contemplamos o ataque sem limites a este legado, parece que a decadência e decrepitude não chegou por acidente, nem por um ataque frontal. O grande triunfo da revolução Marxista tem sido, em troca, o subverter e influenciar para transformar a cultura do Ocidente desde dentro, quase clandestinamente.


Em tempos da Primeira Guerra Mundial, o filósofo comunista, Antônio Gramsci, formulou uma teoria que incluía uma discussão do que ele denominou “hegemonia cultural”. O brilhante Gramsci, vendo o fracasso do “comunismo de guerra” em querer derrotar a ordem tradicional da Europa por meio da força militar, compreendeu que a revolução marxista jamais seria exitosa em sua campanha contra o histórico ocidente cristão por meio do conflito armado. Apesar dos estragos e efeitos devastadores do liberalismo do século XIX, um padrão dominante, tradicionalista, cultural e religioso—uma “hegemonia cultural”—ainda guiava grande parte do pensamento ocidental, estabelecia normas, e governava condutas. Gramsci postulou que essa hegemonia cultural devia ser derrocada e substituída. O Ocidente só seria conquistado se suas bases culturais tradicionais e religiosas, estabelecidas em uma fé cristã ortodoxa, fossem transformadas.
E eram a Igreja Católica e seus postulados sociais e políticos os principais obstáculos e inimigos do marxismo. Gramsci destacou então, que a infiltração e subversão da Igreja eram os meios primordiais para efetuar a revolução. A cultura ocidental—a civilização ocidental—se baseava fundamentalmente na fé, no precioso legado e herança de Jerusalém, Atenas, e Roma. Causar dano a essa conexão, contaminá-la, e subverter o fundamento, dispararia inevitavelmente uma transformação política e cultural.
Até fins do século XIX, o grande escritor católico tradicionalista, Marcelino Menéndez y Pelayo, em sua História dos Heterodoxos, advertiu a Espanha católica: “Espanha, evangelizadora da metade do orbe; Espanha martelo de hereges, luz de Trento, espada de Roma, berço de Santo Inácio…; essa é nossa grandeza e nossa unidade; não temos outra.”

Como Menéndez y Pelayo, Gramsci compreendeu esta máxima, esta verdade sobre a Europa e o Ocidente: se se infecta a base da cultura, se perverte, e logo se alteram suas crenças fundamentais, sua moral, sua concepção de bem e de mal, suas ideias sobre a lei, seus próprios significados linguísticos—se se logram estas coisas, se alteram de igual maneira sua política e cultura. Sem a fé como “armadura e escudo,” a Europa fica indefensa contra os ataques do marxismo e a criação de uma Nova Ordem Mundial essencialmente sem Deus, paganizada, e uma antítese autoritária da ordem cristã estabelecido com o sangue e devoção dos mártires, santos e reis cristãos.
Neste último século, temos sido testemunhas da implementação desta estratégia por parte dos marxistas “culturais” e revolucionários em nosso meio. A oposição ao ocidente cristão tradicional por parte dos comunistas soviéticos mais conservadores, quem desafiaram frontalmente nossas instituições e cultura, resultou inútil. Mas a subversão interna e a infiltração têm resultado particularmente exitosas.

A Igreja sob São Pio X, e posteriormente sob Pio XI e Pio XII, identificou a ameaça premente do comunismo e o socialismo. Sem embargo, a estratégia de Gramsci se adentrou em suas fileiras, ainda que a princípio o tenha feito secretamente, até 1950 e 1960 o fez abertamente, com o êxito do Personalismo, Teilhard de Chardin, e a aceitação de teorias sobre a Igreja na sociedade propagadas por escritores como o Pe. John Courtney Murray e o crescente “neo-liberalismo” na Alemanha e os Países Baixos—“O Reno Desemboca no Tibre” de Ralph Wiltgen. E com a “abertura a sinistra” do Concílio Vaticano II—essa infame “abertura à esquerda”— se abriram largamente as portas para a revolução eclesiástica, política, e culturalmente.
Nos Estados Unidos, a longa marcha “cultural” marxista através de nossas instituições começou em verdade entre os acadêmicos, nos colégios e universidades. Vários observadores assinalam o êxito tremendamente generalizado dos intelectuais marxistas da “Escola de Frankfurt”, quem, sendo judeus, foram expulsos da Alemanha Nacional Socialista na década de 1930, e se assentaram imediatamente nos Estados Unidos na Universidade de Columbia. Desde aquela posição segura exerceram uma incrível influência em quase todos os aspectos da vida intelectual americana (e europeia).
Certamente, como estudante de pós-graduação, lembro que várias obras de Herbert Marcuse (em filosofia), Theodor Adorno (em sociologia e teoria musical), Max Horkheimer (em psicologia social), Erich Fromm (em psicanálise), e Jurgen Habermas (em história) eram furor—vários de meus professores de pós-graduação impuseram entusiasticamente a mim e a meus companheiros. O que descobri naquele momento foi que, em seu conjunto e com ajuda ideológica adicional de escritores influentes como Frantz Fanon (sobre o colonialismo, o imperialismo e a “opressão branca”) e Michel Foucault (sobre a transformação das estruturas sociais e políticas, e teoria crítica), estava se desenvolvendo um enorme e universal esforço para alterar não somente os padrões de pensamento e objetivos sociais e políticos, como o idioma mesmo.[1]
E havia pouquíssima oposição efetiva: a força intelectual dominante no ocidente no século XIX e grande parte do XX foi a de um liberalismo flexível e intelectualmente arruinado que não podia resistir às críticas avassaladoras lançadas contra si desde o marxismo cultural. Poderíamos discutir, sem dúvida, que o liberalismo preparou o terreno para o êxito marxista.
Aqueles escritores e professores “liberais” mais velhos, haviam feito todo o possível por criticar e derrocar uma ordem ainda mais antiga e tradicional, politicamente, socialmente e religiosamente, mas não tinham nada melhor ou mais permanente com que substituí-lo. Suas teorias acerca da “democracia liberal”, a “igualdade”, os “direitos civis”, e a “liberalização” propunham e implementavam a conquista da posição de fidelidade à tradição herdada, a crença na ortodoxia religiosa, a existência de ordens sociais, e o reconhecimento inerente de que a desigualdade é uma condição natural da vida—essas panaceias liberais, tendo debilitado tanto a estrutura política como a social da sociedade histórica ocidental, deixaram a Europa e América abertas às atrações sedutoras de um Marxismo que não era como o da marca soviética, pesado e cleptocrático.
O futuro do mundo não jazia com os comissários septuagenários e fossilizados que anualmente, no Dia da Vitória, estavam de pé e imóveis na Praça Vermelha, para passar em revista o poderio soviético; jazia com os marxistas culturais que ao longo das décadas haviam revolucionado o pensamento, os objetivos, e a mesma linguagem do Ocidente—e cuja mentalidade, cujo padrão, não só revigorou o Marxismo que uma vez se creu morto, como que estabeleceu sua preeminência e sua “hegemonia cultural” ao longo do amplo espectro do pensamento e a cultura ocidental.
É isto, então, com o que nos enfrentamos, os que somos fiéis à tradição mais antiga, a essa herança cristã ortodoxa e ocidental. No panorama político e cultural, incluso aqueles supostos opositores ao Progressismo que avança—com seu ataque final ao que resta de nosso legado herdado e severamente ameaçado—esses supostos opositores utilizam sua linguagem e aceitam tacitamente seus objetivos finais. Portanto, os chamados neoconservadores e seus muitos seguidores republicanos, servem de maneira enviesada, tanto para permitir como para santificar as conquistas dos progressistas e os últimos avanços marxistas.
De igual maneira, entre os supostos “opositores religiosos” à revolução, os que denominamos neocatólicos, ratificam e santificam os câmbios radicais emanados do Vaticano II, e tentam defendê-los como conservadores.
Não obstante, o conflito universal que aparentemente parecia perdido para nós, não terminou. Isto se demostrou politicamente—e culturalmente— em novembro passado. O despertar intermitente aqui nos Estado Unidos, e o crescimento de uma reação nacionalista, conservadora, populista, e tradicionalista na Europa, o refletem. E graças à última estupidez da “invadida Roma”, continua rapidamente o crescimento de organizações e associações dedicadas à ortodoxia católica e a defesa da fé tradicional.
É precisamente por isso que vemos mais reações desenfreadas, febris e histéricas, por parte das forças multifacetárias do “Estado Profundo” progressista e as forças internacionais da Nova Ordem Mundial. Essa reação toma formas diversas, particularmente nos Estados Unidos, com a batalha direta contra o presidente Trump (e ainda mais contra seus planos) por parte dos meios de comunicação massiva e seus seguidores em ambos partidos políticos, entre os acadêmicos, e a cultura popular. E religiosamente, pelos intentos de silenciar e pôr à margem o clero ortodoxo que se opõe à autodestruição da Igreja.
Entre as influentes “eminências pardas” mundiais—“padrinhos” políticos e espirituais—da ofensiva progressista global, está o bilionário internacional George Soros, cujos tentáculos chegam a quase todos os rincões do mundo e cujas Organizações Não Governamentais (ONGs) trabalham sobre a terra para influenciar e subverter a toda nação que resista a ser incorporada à Nova Ordem Mundial, o objetivo atual e último do Estado Profundo, e portanto a etapa final do triunfo da “hegemonia cultural” vislumbrada por Antônio Gramsci.
A visão sangrenta de Soros coincide convenientemente com os objetivos gerais do Estado Profundo: a classe dirigente globalista. Com sua pirâmide de fundações que se financiam entre si, suas ONGs, e seu vínculo próximo e contato com líderes da União Europeia e Washington, Wall Street, e o Vaticano, ele impõe seus objetivos. Mas não escutaram nem uma palavra acerca de seus perversos tentáculos de influência nos meios de comunicação massiva. A quem o mencione a ele, ou a sua influência internacional detrás dos bastidores, se o apoda em seguida de “demente conspiranoico” ou algo pior.
E no entanto, Soros encaixa com a descrição de Disraeli de 170 anos atrás; de haver uma confirmação, ele a exemplificaria. Ele personifica a cara oculta da “onda sangrenta” da revolução contra Deus e o homem da que o poeta William Butler Yeats advertiu em 1919—mesmo momento em que Antônio Gramsci escrevia teorias que resultariam fatais para o Ocidente—e na mesma época em que São Pio X advertia ao mundo cristão do mortalmente infeccioso bacilo do modernismo.
O que saiba a verdade, deverá atuar em consequência. O verdadeiro personagem, a verdadeira cara da revolução, talvez tenha sido revelada como nunca antes no último ano. Se bem que se careça de muitos dos recursos e armas de nossos inimigos, aqueles de nós decididos a não só defender o que resta de nosso patrimônio cultural e civilização ocidental, mas, sendo possível, restaurá-la, devemos ser valentes e astutos; sábios e prudentes como Robert E. Lee, e pacientes e calculadores como nossos inimigos, que compreendem que conquistar o aparentemente inconquistável leva tempo e, sobretudo, persistência, inteligência e constância. E para nós, na base de tudo se encontra nossa fé.
Dr. Boyd D. Cathey



[1] Aqui pode-se aludir claramente à estratégia da “novilíngua”, de que fala George Orwell em 1984. (NdT)


Fonte: The remnant - The Revolution, George Soros, and the Assault on the West





Nenhum comentário:

Postar um comentário