segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Sínodo da família: monumental derrota do modernista Francisco

“Para Francisco, uma fragorosa derrota: tradicionalistas obtiveram uma grande vitória.” | "Mesmo em 2015, será  difícil para Francisco ir muito além disso sem correr o risco de um cisma.



Rorate Caeli
 

 Tradução: Gercione Lima


Professor Odon Vallet é um especialista em história das religiões e civilizações e, por ser considerado como um forte e radical “progressista”, ele é um dos prediletos na mídia francesa para falar como uma voz amiga da agenda secular quando se trata de questões católicas. 

Ele foi entrevistado pelo diário popular “20 Minutes” sobre os resultados da Assembleia do Sínodo dos Bispos de 2014: 

Em que sentido o texto provisório [relation de Bruno Forte] sinaliza um passo importante? 

O texto provisório incluía duas aberturas. Uma com relação aos divorciados recasados e outra a respeito dos homossexuais. Não foi uma revolução, mas uma evolução. Não foi proposta a admissão de divorciados recasados ao sacramento, mas simplesmente de prever, quer por anulação do casamento, ou por um procedimento de penitência, eles pudessem ser readmitidos ao sacramento. Para os homossexuais, não era uma questão de reconhecer o casamento, mas para sublinhar os “dons e qualidades” que eles poderiam oferecer à Igreja. Eles seriam bem recebidos, sem, no entanto oficialmente terem sua  união civil reconhecida. 


Uma evolução que não passou no momento da votação... 

No texto final, nenhuma alusão foi feita novamente a esses dois temas polêmicos. Foi uma fragorosa derrota para o papa Francisco, uma afronta. Pior ainda, um Cardeal [editor nota: Raymond Leo Burke, da oposição conservadora] americano chegou a declarar que o papa tinha causado “um grande dano por não declarar abertamente qual era a sua posição.” Na realidade, Francisco permaneceu em silêncio para garantir a liberdade a todos os participantes. É a primeira vez em pelo menos 50 anos, que um cardeal opõe-se abertamente ao Papa. É a primeira vez também, em vários séculos, que Bispos e cardeais não tem confiança nele

Como explicar isso? 

A quase totalidade destes prelados foi nomeada por João Paulo II e Bento XVI. Suas opiniões são mais conservadoras do que as do papa. Alguns chegam a questionar a sua legitimidade. Eles não aceitaram a renúncia de Bento XVI. [***] E uma vez que o Papa Francisco disse que também renunciaria e que seu pontificado seria breve, alguns estão começando a jogar com o tempo e esperando pela eleição de seu sucessor. 

No entanto, é na verdade papa Francisco que terá a palavra final? 

Após o segundo sínodo, em 2015, o Papa [teria] normalmente que tomar as decisões sob o formato de uma exortação apostólica. Mas é quase impossível que o Papa vá contra bispos e cardeais. Isso provocaria o risco de um cisma na Igreja. Tradicionalistas católicos tiveram uma grande vitória e a França desempenhou um papel importante neste processo. 

Não foi uma vitória simbólica para os homossexuais? 

Esta tentativa de mudança tocou os espíritos em paróquias e dioceses. [*] Muitos clérigos que fazem preparação para casamentos estavam contentes ao ver que o Sínodo parecia levar essas realidades em consideração. Mas o retrocesso final os deixou perturbados. Em muitos países, tais como a França e a Alemanha, a Igreja Católica está profundamente dividida. O grande sucesso dos protestos [nota Rorate: A Manif pour tous] contra o casamento para todos [“Rorate nota: mariage pour tous, um eufemismo Socialista Francês para casamento civil entre pessoas do mesmo sexo” ] previu esse fracasso do Papa Francisco. Não nos esqueçamos de que o centro de gravidade do corpo episcopal é claramente conservador. O Papa perdeu por enquanto qualquer margem de manobra, apesar de sua imensa popularidade [**]. Mas uma vez que ele é ardiloso, ele tomará algum tempo pra refletir e tentar assumir o controle de outra maneira. 

_______________________________________

É uma análise correta do momento. Gostaríamos apenas de acrescentar algumas poucas notas. Em primeiro lugar, [*]  o relatório provisório inflamou os espíritos em todos os lugares e de maneiras muito diferentes, mas não meramente, como Vallet implica, de esperança e expectativa entre os pseudo-católicos que não acreditam em nada. Pelo que recebemos dos leitores oriundos de várias paróquias e de um particular leitor da África, o relatório provisório acendeu um  fogo de indignação em muitos espíritos tanto nas paróquias como também em dioceses. E se tem algo que podemos dizer é que os leigos em países africanos (e, certamente, em cada nação asiática) são muito mais conservadores em questões morais do que os seus próprios bispos. Segundo, que [**] a inegável imensa “popularidade” do papa em contextos seculares é muito menos perceptível a nível paroquial, onde o efeito  "Francisco" é insignificante, isso se existente - e quanto mais dedicado e completamente catequizado é um determinado grupo, menos popular o papa é. Daí o risco imenso, senão for de um cisma claro, uma divisão forte e duradoura entre o papa, sacerdotes e os leigos. Francisco tem muito apoio para mudar a doutrina católica... mas esse apoio vem principalmente de pessoas que raramente vão à igreja, isso se ainda podemos considerá-los como Católicos de fato. Em terceiro lugar, [***] a renúncia do ex-papa é um problema inexistente, apenas na mente dos novos Ultramontanistas liberais. 

Um ponto adicional diz respeito ao Cardeal Burke, este servo exemplar da Igreja. Ele não tem sido outra coisa senão humilde ao aceitar pacientemente todas as humilhações. A maneira como ele foi tratado por Francisco é constrangedora não para ele, mas sim para o papa. Pense no quão diferente eram João Paulo II e Bento XVI para com seus dissidentes mais radicais como o anti-Africano cardeal alemão Walter Kasper, e muitos outros da mesma linha, que nunca foram humilhados ou ameaçados de rebaixamento e exílio, apesar de suas posições - muito pelo contrário. E eles agiram assim não porque eram frouxos, mas porque lutavam pra salvaguardar a unidade da Igreja. 

Francisco, por outro lado, brincou com fogo e trouxe a Igreja à beira do precipício, sua mais séria divisão em cinco séculos, a fim de implementar aquilo que o seu próprio nomeado, o Cardeal Pell chama de "agenda secular". Nem mesmo em um Sínodo, cujos membros foram escolhidos a dedo por ele e dirigidos pelo cardeal Baldisseri sob seu comando, ele foi capaz de alcançar 2/3 dos votos naquelas questões que lhe eram as mais queridas, isso mesmo depois de terem sido consideravelmente diluídas. Comparem e contrastem isso tanto com o Vaticano I como o Vaticano II, onde nem mesmo as questões mais controversas atingiram esse nível de discordância da inequívoca vontade do Papa - e mesmo quando havia uma proporção muito menor de "non placet" votos (menos ainda de 10%), os textos foram alterados para se obter acordos e se chegar o mais próximo possível da unanimidade. E em vez de aceitar graciosamente a exclusão dos parágrafos rejeitados, ele procedeu incluindo as passagens rejeitadas no texto, o que faz com que todo o processo sinodal perca o sentido... Apesar de tudo isso, como diz Vallet, ele é "ardiloso" o suficiente para prosseguir adiante em sua tentativa, independente dos riscos graves e extremamente elevados para a unidade da Igreja envolvidos nisso. Que Nosso Senhor e Nossa Senhora possam proteger a Igreja. 









Nenhum comentário:

Postar um comentário