quinta-feira, 31 de julho de 2014

Quanto agrada a Jesus Cristo sofrer pelo Seu amor


Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me” (Lc 9:23). É importante tecer aqui alguns comentários sobre estas palavras de Jesus. Ele diz: “Se alguém quiser vir após mim”. Não diz a mim (ad me), mas após mim (post me venire). Ele quer que andemos com Ele. É preciso, pois, que caminhemos pelo mesmo caminho de espinhos e sofrimentos pelo qual Ele passou. Ele segue adiante e não para senão no Calvário, onde deve morrer. Portanto, se o amamos devemos segui-lo até nossa morte. E por isso é preciso que cada um de nós negue-se a si mesmo, ou seja, àquilo que o amor próprio lhe pede mas não é do agrado de Jesus Cristo.

Diz também: Tome sua cruz cada dia e siga-me! Consideremos palavra por palavra:


Tome: pouco ajudar levar a cruz à força. Todos os pecadores carregam-na, mas sem merecimento. Para carregá-la com merecimento é preciso abraça-la voluntariamente.

Cruz: Jesus usa a palavra cruz para indicar todo o sofrimento, para que o pensamento de sua morte por nosso amor, na cruz, a torne suave.

Sua: alguns, quando recebem alguma consolação espiritual, se dispõe a abraçar o sofrimento dos mártires, mas depois não podem suportar uma dor de cabeça, uma falta de atenção de um amigo, a doença de um parente. Meu irmão, minha irmã, Deus não quer de você os tormntos do martírio, mas que sofra com paciência a dor, o desprezo, a doença. Aquela monja gostaria de ir sofrer num deserto, de fazer grandes penitências; não pode, no entanto, suportar a superiora, a companheira no seu ofício. Deus, porém, quer que ela carregue a cruz que lhe é  dada e não aquela que desejaria receber.

Cada dia: alguns abraçam a cruz no começo, quando ela vem. Se ela continua, dizem: Agora não posso mais. Deus, no entanto, quer que continuemos a levá-la com paciência até a morte, mesmo que seja contínua. A salvação e a perfeição estão no cumprimento destas três palavras: negue-se a si mesmo (neguemos ao amor próprio aquilo que não convém); tome: abracemos a cruz que Deus nos manda; siga-me: sigamos as pegadas de Jesus até à morte.

Precisamos convencer-nos de que Deus nos mantém no mundo para que abracemos as cruzes que Ele nos envia. E aí o merecimento de nossa vida. Por isso nosso Salvador – que nos ama – veio a esta terra não para gozar mas para sofrer, para que sigamos seus passos: “Sim, fostes chamados para isso, já que também Cristo sofreu por vós e vos deixou o exemplo para que lhe sigais as pegadas” (1Pd 2:21). Olhemos como ele caminha à nossa frente com sua cruz, abrindo caminho, através do qual também nós devemos segui-lo, se quisermos salvar-nos. É um grande remédio dizer a Jesus, em toda aflição: Senhor, quereis que eu padeça toda esta cruz? Eu aceito-a e quero padecê-la de acordo com a vossa vontade.

São muitos os que gostam de ouvir falar de oração e de paz; poucos, porém, de cruz e de sofrimento. Amam o Senhor desde que sopre o vento da doçura espiritual. Mas se ele cessar e vier alguma adversidade ou desolação, onde o Senhor se esconde para experimentá-los, privando-os das consolações costumeiras, eles deixam a oração, a comunhão, as mortificações e se deixam levar pela tristeza e pelo tédio, buscando os prazeres do mundo. Estas almas, porém, amam mais a si mesmas do que a Jesus Cristo. Por outro lado, aquelas que o amam com amor desinteressado de consolações, com amor puro, só porque é digno de ser amado, não deixam os exercícios habituais de devoção por causa de alguma aridez e tédio que aí sentem, contentando-se em agradar a Deus. E oferecem-se para sofrer alguma desolação até a morte e em toda a eternidade, se Deus assim o quisesse. São Francisco de Sales diz que Jesus Cristo é amável  tanto na consolação como na desolação. As almas enamoradas de Deus encontram sua consolação e doçura no sofrimento, ao pensar que sofrem por seu amor e dizem:

                Quanto é doce, meu caro Senhor,

                A quem vos ama, sofrer por vós!

                Oh! Pudesse eu morrer por vosso amor!

                Jesus meu, que morrestes por mim!

Jesus merece tudo isto de nós e muito mais; ele que escolheu uma vida de sofrimento e uma morte dolorosa por nosso amor, sem conforto algum. Com isto nos fez entender que, se quisermos amá-Lo, como Ele nos amou. Oh! Como é cara a Jesus uma alma que sofre e O ama! Oh! Dom divino, dom de todos os dons, amar sofrendo e sofrer amando.

 

Uma estrada de salvação – Santo Afonso de Ligório.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário