segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A mãe católica na educação dos filhos


Uma opinião muito compartilhada entre muitas mães é que: “ a criancinha não compreende as faltas nem as correções , e por isso é inútil ocupar-se a gente dela  quando não seja para acalente-la, admirá-la e enfeitá-la. É tão cômoda esta opinião, e gostamos tanto da comodidade hoje em dia! Graças a ela podemos mimar e adular nossos filhos com a consciência inteiramente tranquila, gozar duma felicidade que não se compra, e desfrutar alegrias sem passar por tristezas: coisa tão rara neste mundo, que a consideraríamos, também preciosa, se a julgássemos segura.
Essa teoria tão natural tranquiliza a consciência, satisfaz o coração e tira à fraqueza todos os motivos de hesitar. Principia a mãe em lisonjear e desenvolver com todas as suas forças os maus instintos que julga fácil reprimir com firmeza ao adiante. Afasta o trabalho afirmando enfaticamente da obrigação de realizá-lo mais tarde, e tem para o futuro uma severidade de princípios tanto maior, quanto mais quisera aturdir-se e cegar os outros a respeito da fraqueza do presente.
Compreendem bem pouco essas pobres mães as provações que a si mesmo preparam; não sabe o que lhes há de custar o primeiro não quero; não suspeitam onde pode chegar a resistência nesses entesinhos acostumados a não ceder a ninguém.


Impulsionadas então pelas íntimas censuras da consciência, e humilhadas pelos defeitos manifesto de seu filho, é possível que tente executar esse trabalho que, para consideração para com seu amor próprio, teriam feito melhor em anunciar menos pomposamente; e travarão entre o seu coração e as paixões da criança combates que reclamarão a reunião de todas as suas forças. Porém, habituada a criança a vencer todos os obstáculos, se alguma vez os encontrou, sustentará valorosamente a luta, e também reunirá todas as suas forças; e, como diminuirão necessariamente as da mãe à proporção que aumentem as dela, é fácil predizer para que lado se inclinará a vitória.
Cansada então a mãe destes ensaios tão infrutíferos e penosos, já não dirá: A criança não compreende; mas dirá consigo: Não posso dominá-la. Triste e tênue consolação, principalmente quando ajunta baixinho a consciência: Mas podia fazê-lo!  Então lamentará o passado, chorará o presente, e talvez ainda queira cerrar os olhos ante o futuro.
Mas a criança, pela sua parte, mais que nunca certa de seu poder, como um rei a quem subministraram os inimigos, atacando-o, ocasião de consolidar o trono por meio de novas conquistas; a criança, conhecedora de sua força tratará a mãe como vencida. Não pedirá novas concessões, mas, tomá-la-ás. E se a mãe tentar depois alguns esforços, como a criança já saberá contê-los, contê-lo-ás.  Toda criança possui essa espécie de inteligência, à qual sabe ajuntar uma energia incrível, quando veem que é possível o triunfo.
Esta alma infantil que quer conquistar com suas paixões sublevadas o direito de governar-se a si mesma, é como o povo excitado por falsas ideias de liberdade, e já sabemos que excessos ele é capaz. Ali como aqui, são sempre governos fracos e condescendentes aqueles contra quem se ergue a rebelião, acusando-os de despóticos.
Não a aniquiles mas, submete-a, dirigi-a e domina-a. Leva-a primeiro à escola da obediência, e depois à da fé (a fé precede a razão para a formar, e a razão segue a fé para a firmar). Saiba a criança praticar o bem antes de o discutir  e explicar e verás que para os fazer compreender não há nada como a prática. Por isso disse o discípulo amado do Salvador com uma profundeza de pensamento que desafia a gramática: Aquele que FAZ a verdade chega à luz.
Curva-lhe o pescoço enquanto é jovem e castigue-o com varas enquanto ainda é criança.(Eclesiástico). Os germes das paixões podem vir a ser árvores corpulentas. Ao cabo de alguns meses, já sabe a criança gritar e impacientar-se quando  encontra oposição; porém acham graça a estas cóleras infantis, provocam-na às vezes, rindo-se delas, e depois cedem, se é que não alcançou tudo no primeiro grito.
Ah! Em verdade a criança não é um joguete, e em mãos cristãs deverá ser sempre um objeto respeitável e sagrado. Então, em vez de rir, dever-se-ia refletir; em vez de admirar, dever-se-ia obrar; em vez de atiçar o fogo, dever-se-ia apagar; e em vez de ceder, dever-se-ia resistir.
E ai de ti, mãe imprudente, se, depois de uma longa e valorosa resistência, concedes ao fim às suas importunidades  o que julgares ao princípio dever recusar, porque não esquecerá a criança. Certa de conseguir o seu fim por meio da perseverança, não há dúvida de que a terá, e tu pagarás muito caro a fraqueza de um momento.
Há até certos caracteres que mostra esta obstinação e este zeloso amor da independência, sem que nada os tenha animado neles. Parece que ao entrar na vida lhes fez ouvir a voz da serpente do Éden o grito de guerra e rebelião, o non serviam que balbuciam antes de poderem falar.
Contra estes é insuficiente uma resistência passiva, se a autoridade não presta auxílio o castigo, a vara recomendada pelo Espírito Santo. E esta vara, que tão dura é para a mão maternal, deve ela saber mostrá-la e aplicá-la, embora lhe doa o coração se volva o rosto, a despeito da vontade, para chorar a firmeza do braço. Quem castiga o seu filho cura-lhe as feridas da alma, ainda que se lhe comovam as entranhas a cada grito que ele solte (Eclesiástico).
Força, é mal que nos pese, vergar esses caracteres inflexíveis; força é que encontrem uma vontade ainda mais tenaz que a sua; e quando, depois de terem lutado por muito tempo, se encontrarem sempre no mesmo ponto; quando virem que todas as suas rebeliões, vão bater de encontro a um poder que não cede; exaustos pelos esforços, convencidos de sua insuficiência, aceitarão o freio que se lhes impuser para o mastigarem, é possível e até provável, a princípio; mas com o tempo se desgostarão dos furores concentrados como dos outros, e, acalmados os primeiros momentos de efervescência, começarão a compreender o valor da submissão, o benefício da sua educação e o afeto de sua mãe, a qual agradecerão as suas correções, bendizendo-a, com toda efusão do conhecimento.
Sim, aquele que poupa o castigo odeia o seu filho, e aquele que o ama aplica-se a corrigi-lo. (Provérbios). Não poupeis a correção à criança, pois não morrerá se o castigares com a vara.(Provérbios).
Sem embargos, para acabar a sua obra ser-lhe-ão poderosos auxiliares certas precauções pueris na aparência. Assim, não deixar nunca sem resposta as perguntas multiplicadas e até embaraçosas do menino terrível, para servir do termo que traduziu tão engenhosamente  a caricatura na linguagem seria; participar dos seus contentamentos, interessar-se pelos seus brinquedos, tomando às vezes parte neles, escutar atentamente a narração das suas emoções e dos seus dissabores ; não abusar, especialmente, sobre pretexto algum, da  sua ingênua credulidade, e até defendê-la contra as tentativas de outrem. É necessário que reconheça tal infalibilidade da mãe. Mas permiti-lhe que pergunte as razões da ordem que se lhe dá, tolerar discussões e resistências fundamentadas, é embrenhar-se numa espécie de livre exame prático; é criar um livre-pensador em embrião, o qual, habituado a regatear a sua obediência à mãe, a recusará talvez um dia a essa outra mãe, cuja infalibilidade se acha garantida pela mesma palavra de Deus.
Não, não, não o façais senhor das suas ações desde a infância. (Eclesiástico). Obedeça ao princípio e mais tarde se lhe poderão fazer chegar aos ouvidos os motivos do mandado, sem que toda via pareça que está prestando satisfações. Deste modo contrairá o hábito da submissão plena, sem prejudicar a cultura da razão.
Primeiro de tudo não esqueçamos que: Se o Senhor não edificar sua casa, em vão trabalham os construtores. Ora, pois, mãe cristã, para não trabalhares em vão; ora quando, só na presença dessa alma infantil tão pura, encaras os teus deveres e a imensa responsabilidade que sobre ti faz pesar esse depósito sagrado. Ah! Seria demasiado pesada a carga se não viesse em teu auxílio Aquele que se revestiu das nossas misérias para nos ajudar a levá-las. Não quis o próprio Jesus Cristo ter necessidade de um ajudante para subir ao calvário?
Se vaidosa e presumida, a mulher perecerá, se julgar tão forte que não necessita de auxílio e tão elevada que não deve pedir. Perecerá sob o peso da maldição de Deus, desse Deus protetor da lâmpada expirante. Perecerá, porque Deus, que salva a quem o implora, nunca prometeu o seu auxílio ao que não pede; perecerá, porque ele aborrece os soberbos; perecerá, e seu filho com ela.
Mas não, Deus meu, não perecerá! A oração é uma necessidade do coração que sempre será recordada pela sua miséria. Confiando na vossa paternal bondade e na palavra do santo Evangelho , orará com esperança e fé e acompanhará de lágrimas a oração que vos dirigir; e desaparecerão os escolhos e lhe renascerá o amor no coração e , cheia de amor não lhe assustarão os inimigos.
Mas tu que amas teu filho, tu cuja esperança provém da fé, não ores só. Jesus Cristo ama nos céus as criancinhas como as amou na terra, e não só te diz ainda: Deixe-as vim à mim, senão quer que lhas conduza tu. A tua primeira lição ensine a teu filho a juntar e erguer ao CÉU as mãozinhas suplicantes. Saibam os lábios murmurar, antes de qualquer outra palavra, o nome divino de Jesus e o nome bendito de Maria. Seja o primeiro exercício da sua memória uma oração, e faça-lhe compreender o primeiro uso da sua inteligência que deve amar seu Pai celestial mais que a ti própria.
Estas impressões que se gravam sem apagar coisa alguma, também não se apagam: encontram-se sempre como fiéis aliados, e acolhem-se como amigos da infância. Talvez sejam as únicas que resistem na efervescência das paixões, à perniciosa influência dos maus princípios, bem como a ação corrosiva dos maus exemplos.
Ah! Se visse, enquanto ora a criancinha com sua fé virginal e sua cândida inocência, que olhares de amor deixa Deus cair sobre os puríssimos perfumes deste incenso, com que ternura se inclina para escutar  este balbuciar inarticulado, e sem embargo  tão inteligível para Ele. Se a mãe sentisse sua própria felicidade e compreendesse a de seu filho , só ela lhe ensinaria esta ciência das ciências , e nunca ele se ajoelharia senão com ela.
Não é menos importante a escolha dos amigos, pois, muitas mães, frequentemente procedem com uma inconsequência  difícil de compreender. Estas mães afadigam-se muito para serem bem sucedidas nas educações que empreendem; não retrocedem para realizar sacrifício algum e, contudo, nada adianta. A proporção que se entrega a este laborioso trabalho destroem-no com igual perseverança porque os perigosos amigos cujo trato habitual toleram, efetuam  a tarefa de demolição com tanto zelo quanto elas empregam em construir.
Ao passo que a mãe apresenta a obediência como uma necessidade e como uma ventura, os amigos inculcam a insubordinação e as vantagens da resistência. A mãe educa na polidez e doçura, riem-se os amigos da primeira e abusam da segunda.
Atualmente, em que as mulheres abandonaram o lar para trabalhar na rua, como se educar o filho não fosse trabalho tem mais: as babás temem as queixas, o rancor e as acusações das crianças pois sabem que estas queixas e acusações deixam sempre uma impressão desfavorável no ânimo dos pais. Em consequência disto, querem elas também fazer a corte ao tirano em miniatura; e não tendo para isso meio mais seguro que o de favorecer-lhes os caprichos e o despotismo, acabam se unindo a ele.
Escolhendo a teu filho uma companhia de sua idade e de sua classe, educada nos mesmos princípios e com os mesmos cuidados, fará  realmente melhor e mais feliz. Na falta dessas relações, serve-lhe tu mesma de companhia e amiga, não permitindo as outras senão raros a intervalos.
Sê severa com a fraude e a hipocrisia; nunca te rias duma mentira, por mais hábil que seja, porque algumas vezes é prudente cerrar os olhos a certas faltas, não pode conceder-se a esta sem perigo tal anistia.
Vela especialmente sobre ti mesma, para que a tua retidão guie, no meio dos hipócritas que encontrarão em todas as idades. Nunca te gabes de ter enganado alguém, nem permita nunca a outros que o façam na presença da criança. Ai! Muitos te ensinarão um dia esse vício; mais ai daqueles que escandalizam estes pequeninos tão queridos do Senhor.
A criança aproveita-se, para se instruir, quase igualmente do que se diz e faz diante dela, e do que se diz e faz para ela. E, pois, é necessário respeitar sumamente os olhos e os ouvidos das crianças.
Se conseguires fazer teu filho amar a verdade ainda quando criança, se aprender a dizê-la a muito que lhe custe, quando homem a encontrará tão formosa que a não renegará; e, graças a essa fiel e luminosa amiga, chegará a ser uma das raras exceções  de franqueza e lealdade que refulgem na terra como estrelas caídas do céu.
Guarda-te também dessa admiração mal disfarçadas que deixam transparecer muitas mulheres a cada palavra ou cada ação de seu filho, o que poderia ressoar de novo a censura dirigida por Deus ao sacerdote Heli: Porque amastes a teus filhos mais do que a mim? (Livros dos Reis). Quando a mãe vai procurando por todas as partes : cita diante dela seus ditos engraçados, provoca-os e comenta-os; a civilidade exige que os outros aplaudam: chamam batendo palmas, o pequeno ator já tão cheio de si; bradam-lhe bis a cada grito agudo, repetem-nos, riem-se e falam deles. Não é preciso mais nada para transformar uma cabeça juvenil, vazia de qualquer outra coisa, e muito disposta a encher-se de vaidade. Lisonjeia teu filho, diz o Espírito Santo, e te causará grandes temores, e por fim te fará ranger os dentes. (Eclesiástico).

A MULHER CRISTÃ, desde o nascimento até a morte - M.me M. de Marcey.







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