sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Quem ama a Deus não deve temer a morte

Como poderá ter medo da morte quem está na graça de Deus? “Quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4,16). Quem ama a Deus está seguro de sua graça e, morrendo desta forma, pode ter certeza de que gozará para sempre do reino dos bem-aventurados. Como pode, então, temer a morte?

Disse Davi: “Não cites perante o tribunal teu servo, porque, diante de ti, nenhum ser vivo é justo!” (Sl 142,2). Isto significa que ninguém deve ter a presunção de salvar-se pelos seus próprios méritos, pois ninguém, exceto Jesus e Maria, pode dizer-se isento de pecados em toda vida. Quem se arrepende de seus pecados e confia nos méritos de Jesus Cristo que veio ao mundo para salvar os pecadores (Lc 19,10) e de fato para isso morreu e derramou seu sangue, não deve temer a morte. O sangue de Jesus Cristo, diz o apóstolo, fala mais alto em favor doa pecadores do que o sangue de Abel, a quem Caim matou: “Vós, ao contrário vos aproximastes da montanha de Sião, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celeste... e do mediador do novo testamento, Jesus, e da aspersão do sangue, mais eloquente do que de Abel” (Hb 12, 22-24).

É verdade que, sem uma revelação divina, ninguém pode ter certeza infalível de sua salvação. Pode, porém, ter certeza moral quem se deu de coração a Deus e está pronto a perder tudo, mesmo a própria vida, antes de perder a graça divina. Esta certeza está bem fundada nas promessas divinas: “ Quem é que confiou no Senhor e foi confundido?” (Eclo 2,10). Deus declara em tantos lugares que não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e se salve: “Acaso tenho prazer na morte do ímpio? – oráculo do Senhor Deus. Não desejo antes que mude de conduta e viva?” (Ez 18,23). Noutro lugar afirma o mesmo e acrescenta um juramento: “Juro por minha vida - oráculo do Senhor Deus – não tenho prazer na morte do ímpio, mas que ele se converta e viva!” (Ez 33,11).
E, no mesmo lugar, Deus se lamenta daqueles pecadores obstinados que, para não deixar o pecado, querem se perder: “Por que haveríeis de perecer, casa de Israel?” E, aos que se arrependem, Deus promete-lhes perdoar todas as culpas: “Mas, se o ímpio arrepender-se de todos os seus pecados... viverá com certeza e não morrerá. Nenhum dos crimes cometidos será lembrado contra ele” (Ez 18,21). O ódio aos pecados cometidos é, para o pecador um sinal certo do perdão recebido. Afirma um padre da Igreja que pode estar  certo do perdão quem  de fato diz:  Detesto e aborreço a mentira e amo vossa lei” (Sl 118,163). Outro sinal certo de ter recuperado a graça é a perseverança por longo tempo numa vida honesta após o pecado. Grande sinal de permanência na graça é estar firmemente decidido a antes morrer do que perder a amizade divina; é ter grande desejo de amá-lo e vê-lo amado pelos outros e sentir pena ao vê-lo ofendido.
Mas como explicar que grandes santos, que se doaram inteiramente a Deus e levaram uma vida mortificada e desprendida de todo afeto dos bens terrenos, foram tomados de medo na hora da morte, ao pensar que teriam de comparecer diante do Cristo juiz? Responde-se que raro são os santos que, ao morrer, tenham sofridos esses temores. Deus quis que assim eles se purificassem de alguns vestígios de pecados antes de entrar para eternidade feliz; em geral, todos eles morreram com grande paz e com grande desejo de morrer para ir ver a Deus. De resto, em relação ao temor da salvação, esta é a diferença entre os pecadores e os santos na hora da morte: os pecadores passam do temor ao desespero; os santos, do temor à confiança e assim morrem em paz.
Portanto, aquele que tem sinais de estar na graça de Deus deve desejar a morte e repetir a oração que Jesus nos ensinou: “Venha o teu reino!” E quando a morte vier, deve abraça-la com alegria, seja para libertar-se dos pecados, deixando esta terra, onde não se vive sem defeitos, seja para ir ver a Deus face a face e para amá-lo com todas as forças no reino do amor.
 
Uma estrada de salvação – Santo Afonso Maria de Ligório.

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