terça-feira, 20 de agosto de 2013

Deus: Imaterial e ao alcance da inteligência


Está dito no Evangelho de João: “Deus é espírito”. É preciso dizer de modo absoluto: Deus não é um corpo, o que se pode demonstrar de três maneiras:

Primeira. Porque nenhum corpo  move se não é movido, como ensina a experiência de cada caso. Ora foi demonstrado que Deus é o primeiro motor imóvel. Logo, fica claro que Ele não é corpo.

Segunda. Porque o que é o primeiro ente tem de estar necessariamente em ato (ponto de partida do movimento) de modo algum em potência (aquilo que requer uma realização). Embora em uma única e mesma coisa que passa da potência ao ato, a potência seja anterior ao ato no tempo; no entanto, absolutamente falando, o ato é anterior à potência, pois o que está em potência só é levado ao ato a potência  por um ente em ato. Ora, foi mostrado acima que Deus é o primeiro ente. É, por conseguinte, impossível que a existência em Deus de algo em potência. Ora, todo corpo se encontra em potência, pois o contínuo, como tal, é divisível ao infinito. É então impossível que Deus seja um corpo.

Terceira. É impossível que um corpo seja o mais nobre dos entes. Pois um corpo é vivo ou não vivo; o corpo vivo é manifestamente mais nobre do que o corpo não vivo. Por outro lado, o corpo  vivo não vive por ser corpo, pois se assim fosse todo corpo viveria; é preciso que viva por alguma outra coisa, como nosso corpo vive pela alma. Ora, o que leva o corpo a viver é mais nobre do que ele. Por conseguinte, é impossível Deus ser um corpo.

OBS: O desfecho perfeito de São Tomás de Aquino é fatal para o materialismo, pois, mostra claramente a impossibilidade do homem ter vida sem alma dando exemplo irrefutável de que o homem material não tem vida própria.

A Sagrada Escritura nos transmite as coisas divinas e espirituais mediante imagens corporais. Daí que, quando atribui a Deus as três dimensões, ela designa, mediante a imagem de uma quantidade corporal, a quantidade de seu poder. Assim, pela profundidade designa o poder de conhecer que é oculto; pela altura, a superioridade de seu poder sobre tudo; pelo comprimento, a duração de sua existência; pela largura, a disposição de seu amor por todas as coisas.

Deve-se dizer que o homem é a imagem e semelhança de Deus, não pelo seu corpo. Mas segundo aquilo que o homem supera os outros animais. Eis por que, depois das palavras “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, o Gêneses acrescenta: “para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e da mesma forma sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra”,  ( Gn 1;26). Ora, o homem é superior a todos os animais pela razão e pelo intelecto. Portanto, é segundo o intelecto e a razão que são incorpóreos, que o homem é a imagem de Deus.

OBS:  O parágrafo acima mostra o caráter satânico de grupos que tentam apagar da consciência humana sua semelhança em Deus, rebaixando o homem a semelhança de um animal irracional. Uns, querendo dar aos bichos e as plantas algo que é inerente exclusivamente à natureza do homem; o direito. Outros querendo convencer que o homem veio do chimpanzé, como se a racionalidade não fosse um abismo que separa um do outro. Mas o que os dois têm em comum nada mais é que o ódio a Deus, não podendo atacar diretamente a Deus, Satanás (o adversário)tenta destruir Sua maior obra.

 Composição de forma e matéria em Deus

 Todo composto de matéria e de forma é corpo; pois a extensão é o que primeiro se faz presente à matéria. Ora, como se mostrou, Deus não é um corpo. Logo, não é composto de matéria e de forma.

É impossível haver em Deus alguma matéria. Porque a matéria é o que está em potência. Já se demonstrou que Deus  é ato puro, nele não existindo nada de potencial. Impossível, por conseguinte, que Deus seja composto de matéria e forma.

OBS: Os materialistas que negam a Deus não entendem que essa negação é justo por negar a razão. Negam a existência de Deus por não prová-la pelos sentidos. Ora, os sentidos vêm de um órgão material, olho, língua, o corpo (tato), ouvido e nariz. Se Deus não é matéria, só podemos saber de sua existência pelo que temos semelhante a ele; o intelecto, é a nossa inteligência, que, por não está presa a um órgão material, reconhece a existência de Deus. A negação de Deus é justamente fruto da irracionalidade.

Porque, a perfeição e a bondade de um composto de matéria e de forma lhe vêm de sua forma; portanto, é necessário que seja bom por participação, na medida em que a matéria participa da forma. Ora, Deus, o bem primeiro e ótimo, não é bom por participação; pois, o que é bom por essência é anterior ao que é bom por participação. Impossível, portanto, que Deus seja composto de matéria e forma.

Porque todo agente age por sua forma. Portanto, conforme alguma coisa está para sua forma, assim está para o fato de ser agente. Em consequência, o que é primeiro e agente por si é necessário que seja forma por si mesmo e primeiramente. Ora, Deus é o primeiro agente, sendo a primeira causa eficiente, como foi mostrado. É, pois, forma por essência, e não composto de matéria e de forma.

OBS: O raciocínio lógico apresentado por São Tomás de Aquino mostra com maior clareza a irracionalidade do panteísmo e diversas seitas orientais que pregam que todas as coisas contém Deus, o que é impossível, se assim fosse, tudo o que é corpóreo seria eterno.Para existir as criaturas tem que haver antes o criador, não podendo assim, todas as coisas conterem Deus.

Deve-se dizer que atribui-se alma a Deus por uma semelhança com o ato. Se queremos algo, isto vem da nossa alma, por isso se diz que agradou à alma de Deus aquilo que agradou à sua vontade.

Deve-se dizer que a cólera e coisas parecidas são atribuídas a Deus por uma semelhança dos efeitos. Porque é próprio da pessoa encolerizada punir, chama-se metaforicamente a cólera de Deus de punição.

Deve-se afirmar que as formas suscetíveis  de serem recebidas na matéria são individualizadas pela matéria, que, por ser o primeiro sujeito receptivo, não pode ser recebida em outro. A forma, pelo contrário, por sua própria natureza, salvo impedimento vindo de fora, pode ser recebida na matéria e é subsistente em si mesma, por isso mesmo é individualizada de modo a não poder ser recebida em outra, e tal forma é Deus. Daí não segue que Ele tenha matéria.


Santo Tomás de Aquino – Suma Teológica, Vol I; Questão 3; art. 1 e 2.

Um comentário:

  1. Deus: imaterial, onisciente, onipotente e perfeito.
    A ciência não pode justificar ou desmentir a existência de Deus, agindo apenas em corpos reais (dotados de matéria).
    Assim, Deus, caso exista, não pode ser material. A existência já o torna imperfeito, o que contradiz aos princípios de Deus.

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