segunda-feira, 13 de maio de 2013

Da ciência dos santos

Há na terra dois tipos de ciência: uma celeste e outra terrestre. A celeste é a que nos leva a agradar a Deus e nos fazer grandes no céu. A terrestre é aquela que nos leva a comprazer-nos em nós mesmos e a fazer-nos grandes na terra.
Esta ciência do mundo, no entanto, é estultícia e verdadeira loucura diante de Deus: “ A sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus ” (1 Cor 3,19). Loucura porque esta ciência torna loucos todos aqueles que a cultivam: torna-os semelhantes aos animais, enquanto lhes ensina favorecer os apetites sexuais, como fazem os animais. Escreve São João Crisóstomo, dizendo que, para se ter a imagem do homem, precisamos ser racionais, isto é, agir segundo a razão. Daí conclui-se que se um animal sempre agisse conforme a razão, dir-se-ia que ele agiria como homem. Assim, ao contrário, um homem que age de acordo com apetite dos sentidos e contra a razão deve-se dizer que age como um animal.

Falando da ciência humana e natural destas coisas terrenas, o que sabem os homens a seu respeito, mesmo que as tenham estudado?
O que somos nós senão toupeiras cegas que, exceto as verdades que sabemos pela fé, todas as outras a conhecemos pelos sentidos e conjecturas, de forma que tudo nos é incerto e falível? Que escritos de tais matérias, embora aplaudido por muitos, ficou, depois, isento das críticas dos outros? Mas o mal é que a ciência terrestre torna-nos orgulhosos, soberbos e fáceis em desprezar os outros: defeitos muitos prejudiciais à alma. Por isso São Tiago diz que Deus nega as graças aos soberbos e as distribui aos humildes (Tg 4,16).
Se fossem sábios discerniriam e compreenderiam o que os espera (Dt 32,29). Ah! Se os homens agissem segundo a razão e conforme a lei divina e soubessem cuidar assim, não tanto da vida temporal, que logo passa, mas da vida eterna! Com certeza se empenhariam em adquirir aquela ciência que ajuda conseguir a felicidade eterna e evitar as penas eternas.
Para aprender a ciência da salvação, são João Crisóstomo aconselha-nos a ir até aos sepulcros. “ Vamos até os sepulcros! Nada vejo senão podridão, ossos e vermes: que vejo eu em meio a estes esqueletos? Não sei distinguir quem deles foi ignorante ou letrado; vejo apenas que, com a morte, para eles cessaram todas as glórias deste mundo. O que sobrou de um Demóstenes, de um Cícero, de um Ulpiano? “ Dormiram seu sono e nada encontraram... em suas mãos” ( Sl 75,6).
Feliz de quem recebeu das mãos de Deus a ciência dos santos! “ E deu-lhes a conhecer a ciência dos santos” (Sb 10,10). A ciência dos santos é saber amar a Deus. Quantos no mundo sabem belas letras, matemática, línguas estrangeiras e antigas! Mas que proveito lhes trará essas ciências se não sabem amar a Deus? Santo Agostinho dizia: “ Feliz de quem conhece a Deus, embora ignore outras coisas!” Quem conhece a Deus e o ama, embora o que sabem os outros, este será mais sábio que todos os sábios que não sabem amar a Deus.
Levantam-se os ignorantes  e arrebatam o céu !”, exclamava ainda santo Agostinho. Oh! Quanto foram sábios um são Francisco de Assis, um são Pascoal, um são João de Deus, desprovidos das ciências mundanas, mas peritos na ciência divina! “ Eu vos louvo, Pai... que ocultastes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11,25). 

Por sábios entendem-se aqui aqueles que buscam para si as coisas e glórias do mundo e fazem pouco caso dos bens eternos. E pequeninos, os espíritos simples (semelhantes a crianças) que pouco sabem da sabedoria mundana, mas põe toda sua força em agradar a Deus. Oh! Não invejemos somente aqueles que sabem amar a Jesus Cristo, e imitemos são Paulo que disse: “ Resolvi entre vós não saber coisa alguma, senão Jesus Cristo e este Crucificado” (1 Cor 2,2). Felizes de nós, se chegarmos a conhecer o amor que Jesus Crucificado nos trouxe e soubermos sempre amá-lo neste livro de amor divino!


 LIGÓRIO, Santo Afonso Maria de – Uma estrada de salvação: Editora Santuário, 2002.

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