sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Deus Pai Todo-Poderoso e Criador

Pela excelência da  sabedoria cristã, podemos reconhecer o quanto devemos à bondade divina por nos levar, sem demoras de raciocínio, a conhecer pelos degraus da fé o ser mais sublime e desejável. Existe, realmente, uma enorme diferença entre a filosofia cristã, e a sabedoria deste mundo. Guiada só pela luz da razão, pode esta  desenvolver-se aos poucos, pelo conhecimento dos efeitos e pela experiência dos sentidos. Mas só depois de longos esforços é que chega afinal a contemplar, com dificuldade, “as coisas invisíveis de Deus” (Rm 1,20); a reconhecer e compreender a Deus como causa primeira e autor de todas as coisas.


A fé, pelo contrário, aumenta de tal maneira a penetração natural do espírito, que este pode sem esforço elevar-se até ao céu, e, de lá todas as coisas colocadas debaixo do seu clarão. Num transporte de júbilo, sentimos então que “das trevas, como diz o Príncipe dos Apóstolos, fomos chamados para uma luz admirável” (1 Pd 2,9); e nessa “ fé exultamos de inefável alegria” (1 Pd 1,8).

Com efeito, para chegarmos até Deus, o mais transcendente de todos os seres, é preciso que nossa alma desfaça totalmente das faculdades sensitivas. Isto, porém, não nos é possível por lei da natureza, enquanto durar a vida presente.

Eis por que os filósofos nada de imperfeito podiam admitir em Deus. Da noção de Deus, afastaram categoricamente tudo o que fosse matéria, crescimento, composição.

Atribuindo-Lhe a suma plenitude de todos os bens, consideravam-n’O como fonte perpétua e inexaurível de bondade e clemência, donde se derrama em todas as criaturas tudo o que há de bom e perfeito.

Chamavam-Lhe, sábio, autor e amigo da verdade, justo, supremo benfeitor. Deram-Lhe ainda outros atributos que exprimem uma perfeição suma e absoluta. Em Deus reconheciam um poder imenso e absoluto, que abrange todos os lugares, e chega a todas as criaturas.

No entanto, estas verdades são expressas, com mais vigor e propriedade, nas páginas da Sagrada Escritura, como por exemplo:

“ Deus é Espírito”(Jo 4,24). – Sede perfeitos, como vosso Pai no céu é perfeito” (Mt 5,48). Todas as coisas estão a nu e descoberto diante de seus olhos” (Hb 4,13). Eu sou o caminho, a verdade e a vida”(Jo 14,6).

Por grandes e sublimes que sejam os conceitos que, de harmonia com a doutrina da Sagrada Escritura, os filósofos tiraram da investigação das coisas criadas, devemos todavia reconhecer a necessidade de uma revelação sobrenatural. O conhecimento que a fé nos transmite dessas verdades, é tambem muito mais certo e estreme de erros, do que as noções adquiridas com recursos de uma ciência meramente humana.

Esse conhecimento explanam-nos a unidade da essência divina, a distinção das três Pessoas. Ensinam-nos que o último fim do homem é o próprio Deus, do qual o homem deve esperar a posse da celestial e eterna felicidade, segundo a palavra de São Paulo: “Deus retribuirá os que o procuram” (Is 64,4 e 1Cor 2,9).

Segue-se também a obrigação de confessarmos que há um só Deus, e não vários deuses. A razão é óbvia. A perfeição suma e absoluta é exclusiva por natureza. Se a vários deuses coubessem simultaneamente, só poderia ser gradual e relativa. Em vários seres não pode haver perfeição em grau sumo e absoluto. Se a algum deles falta alguma coisa para ser sumamente perfeito, por isso mesmo é imperfeito, e não lhe compete a natureza divina.

Além da lógica, existe prova teológica que comprovam esssa verdade nos Livros Sagrados. “Ouve,Israel, o Senhor nosso Deus é um só Deus”(Dt 6,4). “ Eu sou o Primeiro, e Eu sou o Último. Fora de Mim, não há outro Deus” (Is 41,4; 44,6). O Apóstolo também o atesta: “Um só Senhor, uma só fé, um só Batismo”(Ef 4,5).

O nome de “Pai” designa Deus como criador e governador do mundo. Dá-se a Deus o nome de “Pai” sob vários pontos de vista que é preciso explicar primeiro o sentido, que lhe cabe neste lugar.

Nas trevas do paganismo, chegaram alguns homens a reconhecer sem a luz da fé, que Deus é uma substância eterna, da qual tiveram origem todas as coisas, e cuja Providência tudo governa, e tudo conserva em sua ordem e posição.

Assim como chamamos de pai a quem funda uma família, e a dirige com critério e autoridade, assim também quiseram eles, por analogia, chamar de “Pai” a Deus, a quem reconheciam como Criador e Governador de todas as coisas.

A Sagrada Escritura emprega o termo também declarando que Lhe devemos atribuir a criação, o domínio e a admirável provisão de todas as coisas. Numa passagem lemos: “Não é Ele teu Pai, que te adquiriu, que te fez e tirou do nada?”(Dt 32,6). – E noutra: “Porventura, não é um só o Pai de todos nós? Não foi o mesmo Deus que nos criou?(Mt 2,10).

O cristão “não recebeu o espírito de servidão, para estarem novamente com temor, mas o espírito de filiação adotiva, o qual nos faz exclamar: Abba, Pai” (Rm 8,15). Tão grande é o amor do Pai para conosco que somos chamados e de fato somos filhos de Deus” (1Jo 3,1). – se porém, somos filhos, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo”(Rm 8,17), que é o Primogênito entre muitos irmãos (Rm 8,29), e não se vexa de nos chamar irmãos (Hb 2,11).

Todo Poderoso. A Sagrada Escritura emprega muitas expressões para indicar o sumo poder e a imensa majestade de Deus. Mostra-nos assim com quanto respeito devemos venerar Seu Nome Santíssimo, a Deus se atribui com maior frequência o nome “Onipotente”.

Deus declara de si mesmo: “Eu sou o Senhor Todo Poderoso”(Gn 17,1). Algumas vezes por meio de paráfrases como: “A Deus nada é impossível” (Lc 1,37). – “Em vossa mão está usar de poder, quando quiserdes” (Sb 12,18).

O conceito de Todo-Poderoso nos dá a entender que nada existe, nada se pode pensar ou imaginar que Deus tenha a virtude de realizar. Pode, portanto, não só operar prodígios que, por maiores que sejam, não excedem de maneira absoluta o âmbito de nossas idéias, como por exemplo fazer voltar ao nada todas as coisas, ou num ápice tirar do nada outros mundos; mas pode também fazer coisas muito maiores, que a inteligência humana não chega sequer a suspeitar.

Apesar de poder tudo, Deus não pode todavia pecar, nem perecer, nem tampouco ignorar alguma coisa. São deficiências que só pode que só podem ocorrer na natureza, cuja operação é imperfeita.

Com efeito, desde que reconhecemos a Deus como sendo Todo-Poderoso, força nos é também professar que Ele sabe todas as coisas, e que todas as coisas estão igualmente sujeitas ao Seu poder e soberania.

Deus criador do céu e da terra. Deus não formou o mundo de uma matéria preexistente, mas criou-o do nada, sem a tanto ser obrigado por violência estranha ou necessidade natural; mas por Sua livre e espontânea vontade. Nenhum outro motivo O impeliu a criar o mundo, senão a Sua própria bondade. Queria comunica-las a todas as coisas que criasse. Possuindo por Sua natureza toda a felicidade, Deus não tem falta de coisa nenhuma.

Assim como não obedeceu senão a própria bondade, para “fazer tudo o que era do seu agrado” (Os 113,13), assim também não seguiu na criação nenhum modelo que estivesse fora de Sua própria natureza.

Sua inteligência infinita possui, dentro de Si mesma a idéia exemplar de todas as coisas. Contemplando, pois, em Si mesmo essa idéia exemplar; e reproduzindo-a, por assim dizer, com a suma sabedoria e o infinito poder, que Lhe são próprios, Supremo Artífice criou no princípio todas as coisas do Universo. “Ele disse, e tudo foi feito; Ele mandou, e tudo foi criado” (Sl 148,5).

Pelos termos “céu e terra”, deve tomar-se tudo o que o céu e a terra compreendem. Além do dos céus, que o Profeta considerava como “obra de Suas Mãos” (Os 8,4), Deus criou a claridade do sol e o encanto da lua e dos corpos celestes, para que servissem de sinais para os tempos, os dias e os anos” (Gn 1,14).

A par do firmamento, Deus criou do nada seres de natureza espiritual, inúmeros Anjos, cujo ministério era servir-Lhe, e assistir diante de Seu trono. Conferiu-lhes depois o admirável dom de Sua graça e poder.

Com o poder de Sua palavra, Deus também firmou a terra em bases sólidas, e deu-lhe um lugar no meio do Universo. Fez com que os morros se erguessem, e os campos baixassem ao nível ao nível que lhes tinha marcado. E para que as massas dágua não inundassem a terra, “assentou-lhes limites dos quais não passarão, e não tornarão a cobrí-la” (Sl 103,5 ; 8,9).

Em seguida revestiu a terra de árvores e de toda a sorte de flôres; encheu-a também de inúmeras espécie de animais, como antes já o tinha feito com as águas e os ares.

Por último, Deus formou do limbo da terra o corpo do homem, de maneira que fosse imortal e impassível, não por exigência da própria natureza, mas por mero efeito da bondade divina (Gn 1,1).

A alma, porém, Deus a criou à Sua imagem e semelhança, e dotou-a de livre-arbítrio. Além de tudo, regulou os movimentos e apetites da alma, de sorte que sempre obedecessem ao império da razão. Finalmente, deu-lhe ainda o admirável dom da justiça original, e quis que tivesse o governo de todos os outros seres animados.

Como tudo só existe graças à onipotência, sabedoria, e bondade do Criador, todas as criaturas recairiam logo no seu nada, se Deus lhe não assistisse continuamente pela sua Providência, e não as conservasse pelo mesmo poder que, desde o princípio, empregou para criar. A Escritura no-lo declara: “Como poderia subsistir alguma coisa, se Vós o não quisésseis? Como poderia conservar-se o que Vós não tivésseis chamado?” (Sb 11,26).

Sobre conservar e governar, pela sua Providência, tudo que existe, Deus comunica, por um impulso interior, ação e movimento a todas as coisas, conforme a propriedade que tem cada qual de mover-se e operar.

Sem as impedir, Deus antecipa-Se a influência das causas segundas, como uma virtude oculta que se estende a todas as coisas, e, no dizer do Sábio, “atinge fortemente de um extremo a outro, e dispõe todas as coisas com suavidade” (Sb 8,1).







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