terça-feira, 6 de novembro de 2012

Deus merece ser amado sobre todas as coisas


Diz Santa Tereza que Deus faz um grande favor a uma alma quando a atrai a seu amor. Amemo-lo, pois, nós que somos atraídos a esse amor e amemo-lo como ele quer ser amado: “Ama o Senhor teu Deus de todo teu coração”. O venerável Luiz da Ponte ficava envergonhado quando dizia: Senhor, eu vos amo sobre todas as coisas; eu vos amo acima de todas as criaturas, mais do que todas as riquezas, honras e prazeres terrenos; parecendo dizer, com tais palavras: meu Deus, eu vos amo mais que a palha, que as coisas passageiras, mais que o lodo.


Deus, porém, contenta-se quando o amamos sobre todas as coisas. Então pelo menos digamos: Sim, Senhor, eu vos amo mais do que todas as coisas desse mundo, mais do que todas as riquezas, familiares e amigos; mais do que toda a santidade, mais do que minha glória e todas as ciências, do que todas as minhas consolações; amo-vos enfim, mais do que todas as minhas coisas, mais do que a mim mesmo.

Digamos-lhe ainda: Senhor, eu estimo vossas graças, vossos dons; mas, mais do que todos os vossos dons, amo a vós que sois a bondade infinita e um bem infinitamente amável, que supera todo outro bem.

E por isso, meu Deus, qualquer coisa que me derdes fora de vós e que não seja vós mesmo, não me basta; e se me derdes a vós mesmos, só vós me bastais. Outros procurem aquilo que quiserem, eu, porém, não quero outra coisa senão vós, meu amor, meu tudo. Só em vós eu encontro tudo quanto posso buscar e desejar.

Dizia a sagrada esposa que dentre todas as coisas escolhera amar seu dileto: “ O meu amado é branco e corado, inconfundível entre milhares” (Ct 5,10). E nós, quem escolheremos para amar? Dentre todos os amigos deste mundo, onde poderemos encontrar alguém mais amável e mais fiel do que Deus, alguém que tenha amado mais do que ele? Rezemos portanto e rezemos sempre: Senhor, atraí-me para vós. Se não o fizerdes, eu não poderei ir até vós.


Ah! Meu Senhor e Salvador, quando será que eu, despojado de todo outro afeto, não aspire e nem busque outro senão a vós? Gostaria de despojar-me de tudo, mas muitas vezes certos afetos inoportunos me desviam de vós e invadem meu coração. Desprendei-me com vossa mão poderosa e fazei-vos o único objeto de todo meu amor e de todos os meus pensamentos.


Diz Santo Agostinho que quem tem Deus tem tudo; quem não o tem, nada tem. A que serve um rico ter mais e mais tesouros de ouro e de pedras preciosas, se está sem Deus? Que adianta um monarca ter muitos reinos, se não tem a graça de Deus? O que adianta a um letrado saber muitas ciências e muitas línguas, se não sabe amar o seu Deus? O que adianta a um general o comando de todo um exército, se vive escravo do demônio e distante de Deus? Davi, quando rei, mas em pecado, andava pelos seus jardins, ia às suas caças e a outros divertimentos; parecia, porém, que aquelas criaturas lhe diziam: “ Teu Deus onde está? Tu queres encontrar em nós teu contentamento? Vai, procura Deus que deixas-te, que só ele pode te contentar”. E por isso confessava ele que em meio a todas as suas delícias não encontrava paz e chorava noite e dia ao pensar que estava sem Deus: “ As lágrimas são meu pão, dia e noite, enquanto me repetem todo dia: Onde está o teu Deus?”  (Sl 41,4).

Em meio às misérias e trabalhos deste mundo quem melhor que Jesus Cristo para consolar-vos? Por isso ele diz: “vinde a mim, todos vós, fatigados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” (Mt  11,28). Ó loucura dos mundanos! É de maior consolo uma lágrima derramada pela dor dos próprios pecados, vale mais um meu Deus dito com amor por uma alma que está em graça, do que mil festins, mil comédias, mil banquetes, para contentar um coração amante do mundo. Repito, ó loucura! Loucura que não mais poderá ser remediada, quando vier a morte, na qual se faz noite, como diz o evangelho: “Virá a noite quando ninguém mais pode trabalhar” (Jo 9,4). Portanto, o Senhor nos aconselha a caminhar enquanto temos luz; e que, se vier a noite, não poderemos fazer mais nada: “Caminhai enquanto tende luz, para que não vos surpreendam as trevas” (Jo 12,35).

Seja Deus, pois, todo nosso tesouro, todo nosso amor. E todo o nosso desejo seja fazer a vontade de Deus, que não se deixa vencer pelo amor; ele recompensa cem por cento cada coisa que se faz para agradá-lo.


Calai-vos, mundo iníquo!

Não mais busqueis em mim nem estima, nem amor:

Meu coração se prendeu a Alguém

Mais fiel e mais amável do que vós.


Ah! Meu Deus e todo  meu bem, sede vós o objeto dominante de minha alma; e assim como eu vos prefiro no amor a todas as coisas, assim fazei em todas as coisas eu prefira vossa vontade a todo meu prazer. Meu Jesus, espero,  pelo vosso sangue, na vida que me resta, não amar ninguém a não ser vós, para um dia vos possuir eternamente no reino dos bem-aventurados. Virgem Santíssima, socorrei-me com vossas poderosas súplicas e levai-me a beijar vossos pés no paraíso.

DE LIGÓRIO, Santo Afonso Maria, Uma Estrada para Salvação: Para quem quer prosseguir no amor a Deus; tradução de Pe. Afonso Paschotte. - Aparecida, Editora Santuário, 2002.



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